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Sou um simples africano, cumprindo o meu dever no meu próprio país, no contexto do nosso tempo.

A Fundação Mário Soares e Maria Barroso evoca a vida e o legado de Amílcar Cabral no centenário do seu nascimento, sublinhando o valor histórico e patrimonial dos documentos que integram o seu arquivo. Os seus manuscritos, desde apontamentos e notas onde delineou a estratégia política e militar, até reflexões mais profundas sobre os aspectos culturais, económicos e sociais da luta de libertação, continuam a circular mundialmente, inspirando novas gerações e mantendo viva a sua visão.

Nascido em 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, agrónomo de formação e profissão, e profundo conhecedor da realidade social do seu povo, Amílcar Cabral encabeçou o processo de crítica e julgamento do colonialismo português, desenvolveu a ideia de resistência cultural, e defendeu a unidade africana, ao mesmo tempo que organizava a estratégia militar do PAIGC, projetava a construção do Estado nas zonas libertadas, e se envolvia numa intensa campanha diplomática pelo apoio à luta de libertação e pelo reconhecimento jurídico da Guiné como um Estado independente. Amílcar Cabral foi mentor, juntamente com outros nacionalistas africanos, de movimentos anti-coloniais que abalaram a estrutura colonial portuguesa nas instâncias internacionais.

Constituído ao longo de uma vida, o Arquivo Amílcar Cabral teve a sua primeira versão digital em 1999, no âmbito do projeto de salvaguarda dos documentos que foi promovido por Iva Cabral, e realizado com o apoio da Fundação Mário Soares, onde este arquivo se encontra depositado por iniciativa dos seus detentores, tendo sido alvo de uma nova intervenção, com o objetivo de enriquecer a representação digital e a descrição dos seus conteúdos.

Na sequência deste trabalho, a Fundação reproduziu, de acordo com parâmetros técnicos internacionais para a preservação digital de bens de herança cultural, a coleção fotográfica que integra o arquivo, constituída por cerca de 1426 provas fotográficas, e os manuscritos de Amílcar Cabral, num total de 611 documentos e 2835 imagens, e aprofundou a sua descrição, de forma a tornar mais claro o contexto de produção dos documentos e a destacar a relação com outros arquivos, como os de Mário Pinto de Andrade, Pedro Pires, Mikko Pyhäla e Casa dos Estudantes do Império.

Esta intervenção, associada à disponibilização de conteúdos na Casa Comum, permite ampliar o conhecimento sobre a vida, obra, pensamento e ação de Amílcar Cabral e, complementarmente, assegurar a preservação, a projeção e a reutilização do valioso património cultural material e imaterial, em particular considerando a iniciativa, em curso, de inscrição dos Arquivos de Amílcar Cabral no Registo “Memória do Mundo”, da UNESCO.

Evocar Cabral é lembrar o revolucionário e o humanista cuja vida e obra, nas palavras de Mário Pinto de Andrade, “se desenrolaram numa harmoniosa unidade dialéctica, uma contendo e iluminando a significação da outra”.

Amílcar Cabral, na região de Boké, agosto de 1971. Foto: Bruna Polimeni.
Amílcar Cabral, na região de Boké, agosto de 1971. Foto: Bruna Polimeni.
Amílcar Cabral, segurando o filho de um guerrilheiro, na região de Boké, agosto de 1971. Foto: Bruna Polimeni.
Amílcar Cabral e Pedro Pires, reunindo-se com a população no interior da Guiné, s/d.
Amílcar Cabral na sede do PAIGC, em Conakry, julho de 1971. Foto: Bruna Polimeni
Amílcar Cabral de visita à Finlândia, outubro de 1971. Foto: [Kristiina Haavisto]
Razões da minha Resistência. Disciplina. Tarefas da causa. Plano para a minha saída definitiva. Manuscrito de Amílcar Cabral, c.1959.
Declaração de Princípios do Partido Africano da Independência. Manuscrito de Amílcar Cabral, c. janeiro de 1960.
Notas de Amílcar Cabral [em Londres, março de 1960].
Reunião sobre a Rádio Libertação [cuja emissão, a cargo de Amélia Araújo, iniciou em julho de 1967, a partir de Conakry], junho de 1966.
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