Há precisamente 100 anos, a 7 de abril de 1921, foi lançado o primeiro número do Diário de Lisboa. Jornal republicano, com a redação inicial situada no n.º 90 da Rua do Carmo, composto na Rua do Mundo (atual Rua da Misericórdia), tinha apenas oito páginas, custava 10 centavos e era dirigido por Joaquim Manso, que o liderou até à sua morte, em 1956. Num momento de crise da República, este novo jornal trazia, entre outras, a novidade de ser vespertino, saindo ao final da tarde. Era igualmente moderno no seu grafismo e pioneiro no formato tabloide.
O Diário de Lisboa afirmou-se rapidamente como um jornal de referência. Com o andar do tempo mudou o local da redação, aumentou o número de páginas, transformou-se, refletindo o percurso histórico do País, acompanhando as diversas dinâmicas políticas e sociais.
Ao longo dos 70 anos em que esteve nas bancas nacionais, publicaram textos nas suas páginas, grandes figuras da cultura nacional, como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Jaime Cortesão, José Régio, António Sérgio, Alexandre O’Neill e tantos outros. Era, como tantos afirmam, o "jornal dos intelectuais", das animadas tertúlias. Entre as múltiplas iniciativas do periódico, ficou célebre o suplemento semanal "A Mosca", dirigido por Luís Sttau Monteiro.
Passaram pela sua redação alguns dos mais notáveis jornalistas portugueses, desde Norberto Lopes, Artur Portela e Félix Correia, que integraram o projeto desde o início, até Mário Neves, Artur Santos Jorge, Joaquim Letria, Urbano Tavares Rodrigues, Raul Rêgo, Carlos Veiga Pereira, José Carlos Vasconcelos, Vítor Direito, Fernando Assis Pacheco, Silva Costa, Antónia de Sousa, Manuel Beça Múrias, Mário Zambujal, Fernando Dacosta, Diana Andringa, António Valdemar, entre muitos outros. Foram diretores do Diário de Lisboa Norberto Lopes (1956-1967), Ruella Ramos (1967-1989; 1990) e Mário Mesquita (1989-1990).
Jornal marcante no panorama jornalístico nacional, com tantas características particulares, foi um resistente, fazendo a "oposição possível" ao Estado Novo, em tempos de apertada censura prévia. Não deixou, porém, de viver profundas crises internas, que o marcaram e transformaram, levando inclusivamente a mudanças expressivas no seu corpo redatorial. Após o 25 de Abril de 1974, viveu os conturbados meses da Revolução e as lutas políticas de então de forma empenhada e percorreu o caminho da institucionalização da Democracia, procurando adaptar-se e reinventar-se, mas não resistiu aos graves problemas económicos que teve de enfrentar e publicou o seu último número a 30 de novembro de 1990. Chegava ao fim um jornal que "faz parte do património nacional", como logo nesse dia assinalou Raul Rêgo, e "um dos grandes mitos do jornalismo", como se lhe referiu Baptista-Bastos.
No centenário da criação do Diário de Lisboa, a Fundação Mário Soares e Maria Barroso organiza um programa comemorativo que tem início com um Colóquio no próximo dia 30 de abril de 2021.
Na Fundação Mário Soares e Maria Barroso encontram-se todas as edições do Diário de Lisboa digitalizadas e disponíveis online, na Casa Comum,