João Lopes Soares
Pedagogo e político, João Lopes Soares (1878-1970) dedicou a sua vida à causa pública, à defesa dos ideais republicanos e à oposição à ditadura.

João Lopes Soares nasceu em 17 de novembro de 1878, no lugar das Cabeças, freguesia do Arrabal, concelho de Leiria.
Frequentou o ensino liceal em Leiria e concluiu, em 1900, o curso superior de Teologia, em Coimbra. Ordenado sacerdote, foi capelão militar em Alcobaça, Lisboa, Vila Viçosa, Abrantes e na Covilhã.
Logo se iniciou na propaganda republicana e destacou-se na instrução das primeiras letras aos soldados dos vários regimentos por onde passou, a grande maioria analfabetos.


Republicano convicto, João Lopes Soares teve uma atividade política intensa, destacando-se como parlamentar e governante.
Na sequência da Proclamação da República, ingressou, em 1911, como professor no Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar. Ocupou, depois, sucessivos cargos públicos e políticos: como administrador e governador civil da Guarda (1912), de Braga (1913) e de Santarém (1915), vogal do Conselho Superior da Administração Financeira do Estado (1914-1926), deputado pelos círculos de Guimarães e Leiria (1916-1920), ministro das colónias do primeiro governo de Domingos Pereira (1919).
Solicitou, em carta dirigida ao Papa em 1923, a nulidade da sua ordenação, que lhe foi concedida.
Destacado defensor dos ideais democráticos, desenvolveu uma ativa oposição à Ditadura Militar, conspirando e participando em várias revoltas, o que lhe valeu a deportação para Ponta Delgada, nos Açores, e várias prisões pela polícia política.
Casou com Elisa Nobre Baptista em 1934, dez anos depois de ter nascido o único filho em comum, Mário Soares. Dezoito anos antes, fruto de um outro relacionamento, nascera Tertuliano, o seu primeiro filho.
João Lopes Soares foi até ao final da sua vida um incansável combatente pela liberdade e pela democracia.
Na oposição ao Estado Novo, envolveu-se na preparação de inúmeros golpes e movimentos contra o regime, tendo tido um papel de relevo na "Revolta da Mealhada", em 1946, e no golpe de "10 de Abril de 1947", chefiado por Mendes Cabeçadas.
Por tudo isso, esteve novamente preso, encontrando-se na cadeia do Aljube com o seu filho, Mário Soares, detido por também conspirar contra o governo de Salazar.
Referindo-se ao pai, Mário Soares recordou sempre que fora a sua "grande referência moral", o "centro da família", "um factor insubstituível de estabilização".

Professor e pedagogo até ao fim da vida, João Lopes Soares fundou, com João de Deus Ramos, o Bairro Escolar do Estoril, o Colégio Nun’Álvares e, em 1936, o Colégio Moderno (inicialmente Pensionato Moderno), na Estrada de Malpique, em Lisboa, hoje Rua Dr. João Soares.
Enquanto diretor de todos estes estabelecimentos de ensino, e muito em particular do Colégio Moderno, que permanece como uma referência no ensino em Portugal, João Lopes Soares marcou gerações de estudantes, desenvolvendo métodos pedagógicos inovadores e modernos, que se refletiram nas inúmeras obras escolares que escreveu, entre as quais se destacam Portugal Nossa Terra - Educação Cívica (com Elísio de Campos, 1917), A Idade Moderna e Contemporânea (1922), Novo Atlas Escolar Português (1925) e Quadros da História de Portugal (com Chagas Franco, 1932).
João Lopes Soares morreu em Lisboa, a 31 de julho de 1970, aos 91 anos de idade.
