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    Arquivos visuais da revolução | Ingeborg Lippman e Peter Collis



    watch_later 15/1/2024

    A Democracia instaurada pela Revolução de Abril em 1974 nasceu acompanhada da vontade de inventar um outro destino para Portugal | Eduardo Lourenço. 

    A Fundação Mário Soares e Maria Barroso disponibiliza ao público um conjunto de imagens e textos  provenientes dos arquivos de dois fotojornalistas estrangeiros, Ingeborg Lippman e Peter Collis, que se encontravam em Portugal durante a Revolução de 25 de Abril de 1974, tendo documentado uma série de eventos que ilustram a história da revolução, da descolonização e da transição para a democracia.

    Os arquivos de Ingeborg Lippman e Peter Collis, cujos conteúdos podem agora ser acedidos e estudados em formato digital, ilustram ainda a flexibilidade e a velocidade características das técnicas e processos fotográficos da época, assim como a capacidade das agências noticiosas de informar o público sobre o que se passava no outro lado do mundo, derivando de uma prática que se materializa nos negativos e diapositivos, nas provas de autor e provas de contacto, igualmente relevantes para a história do fotojornalismo.

    Peter Collis

    O britânico Peter Collis acompanhou os acontecimentos que se seguiram ao golpe militar a partir de Portugal, em parceria com a correspondente da revista Time, a norte-americana Martha de La Cal.

       

    Entre abril e julho de 1974: tanques do MFA circulando pelas ruas de Lisboa (07943.031.001), chegada de Mário Soares, Francisco Ramos da Costa e Tito de Morais do exílio (07943.031.019), e manifestação convocada pelo PCP, PS e PPD comemorando o fim da guerra colonial e o reconhecimento do direito à independência das ex-colónias (07942.008.011).

    As imagens de Collis ilustram diversos aspectos da época, como o regresso de exilados políticos, o fim da guerra colonial e a transição das ex-colónias para a independência (a chegada dos retornados e dos refugiados de conflitos armados e o regresso do contingente militar português), as primeiras manifestações em liberdade, a constituição dos governos provisórios e a abertura da Assembleia Constituinte, a celebração do 1º de Maio de 1975, e a Reforma Agrária, entre outros eventos que marcaram a sociedade de então, deixando-nos um retrato dos seus protagonistas.

    Manifestações em Lisboa, depois do 25 de Abril de 1974 (07943.113 e 07942.114).

    Chegada a Lisboa de contigente militar português proveniente da Guiné-Bissau, a bordo do paquete Niassa, setembro de 1974 (07942.120 a 07942.122).

    Ingeborg Lippman

    A norte-americana Ingeborg Lippman, à época correspondente do jornal The New York Times, deu especial atenção às mulheres em dois projetos fotográficos, a luta das guerrilheiras da FRELIMO pela emancipação feminina em Moçambique, e as trabalhadoras agrícolas no Alentejo durante a Reforma Agrária (The changing face of Alentejo, 1975).

    Durante a sua deslocação a Moçambique, em novembro de 1974, Lippman assistiu a um encontro da FRELIMO ("banja") com a população em Pemba, durante o qual entrevistou a guerrilheira Geraldina Mitwo,que viria a ser a protagonista da reportagem que escreveu sobre a emancipação feminina no contexto dos movimentos de libertação:

      

    Geraldina fought in the Cabo Delgado, Tete and Niassa regions of Mozambique. She grew to accept the risks and deprivations of the freedom fighter as a normal way of life. - "My muscles soon stopped aching. My stomach got used to being fed when there was food. When there was none, I did without it." -  No butterflies in the stomach for Geraldina (Lippman, Frelimo's Women and Women's Liberation, 1975, p.4, 07896.002)

    The ideals of Frelimo are only attainable, as are any perfect ideals, by a conjunction of perfect circumstances, which I wish for Geraldina and the Mozambican women, but also realize that history records more ideal failures than successes (Lippman, Frelimo's Women and Women's Liberation, 1975, p. 6, 07896.002)

    Lippman acompanhou também a transição de Angola para a independência, entrevistando o líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, na base militar de Sakalemba (Lippman, Angola - Only in Peace is a discussion possible, 1974, 07899.005), regressando àquele país para fazer a cobertura da guerra civil a partir do território controlado pela UNITA, onde testemunhou a retirada de refugiados do Huambo, a cisão da coligação UNITA-FNLA e a intervenção de forças estrangeiras na guerra, sendo, porém, impedida pelos militares de avançar até à linha da frente, onde se desenrolavam os combates.

    Legenda

    Primeira tira de prova de contacto com 37 fotogramas da primeira reportagem de Ingeborg Lippman em Angola, entre 27 de agosto e 1 de setembro de 1974 (07899.002.009).

    Lippman relatou, a partir da cidade do Huambo, nas vésperas da proclamação da independência, a retirada de refugiados por meio da ponte aérea que ligou Angola a Portugal em 1975, nas reportagens "Angola's Second City - Slowly Strangling" e "Angola Airlift Runs out of time":

    UNITA leaders say they hate to see the whites go and would like to see a multi-racial society in Angola. BUt UNITA Secretary General N'Zau Puna says, "In all fairness we can't stop them from leaving because the moment the Portuguese troops go, the real war will start" (Lippman, Angola's Second City - Slowly Strangling, p. 2, 07902.006)

    This city [Nova Lisboa], Angola's second largest, is almost dead now, most of its shops closed. Of its 13 pharmacies perhaps six are still open and there's not an aspirin to be found. Medical stocks are running out and there's no hope to get any more, since traffic between Nova Lisboa and Luanda, the capital, has been cut (Lippman, Angola airlift runs out of time, 1975, p. 1, 07902.004)

      

    A radio announcement said that the airlift would be halted in a matter of days; there may be panic among the refugees if this is true. As for myself, I'll stay as long as I can and fly to Lisbon in the last military plane out (Lippman, Angola airlift runs out of time, 1975, p. 2, 07902.004)

    Desta vez, Lippman permaneceu em território  da UNITA entre novembro de 1975 e janeiro de 1976.



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