(17 de novembro de 1878 - 31 de Julho de 1970)
"A História deve essencialmente ocupar-se da evolução espiritual da Humanidade. Não lhe pertence como objectivo o estudo de quaisquer formas ou agentes dessa evolução, mas todo o desenvolvimento humano em conjunto, relacionado com a tendência de nos afastarmos cada vez mais da vida rude dos tempos primitivos."
- João Soares, Novo Atlas Escolar Português, 1925.
Pedagogo e político, João Lopes Soares (1978-1970) dedicou a sua vida à causa pública, à defesa dos ideais republicanos e à oposição à ditadura. O seu nome fica incontornavelmente ligado à educação, tendo introduzido importantes inovações pedagógicas nas instituições de ensino que fundou e dirigiu e escrito manuais escolares que modernizaram o estudo da História e da Geografia de Portugal.
João Soares nasce em 17 de novembro de 1878, no lugar das Cabeças, freguesia do Arrabal, concelho de Leiria. Tendo frequentado o ensino liceal em Leiria, conclui, em 1900, o curso superior de Teologia, em Coimbra. Ordenado sacerdote, foi capelão militar em Alcobaça, Lisboa, Vila Viçosa, Abrantes e na Covilhã. Logo se iniciou na propaganda republicana e destacou-se a ensinar a ler e escrever os soldados dos vários regimentos por onde passou, a grande maioria analfabetos.
Proclamada a República, ingressa, em 1911, como professor no recém-criado Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar. Ocupou, depois, sucessivos cargos públicos e políticos: como administrador e governador civil da Guarda (1912), de Braga (1913) e de Santarém (1915), vogal do Conselho Superior da Administração Financeira do Estado (1914-1926), deputado pelos círculos de Guimarães e Leiria (1916-1920), ministro das colónias do primeiro governo de Domingos Pereira (1919).
Tendo solicitado, em carta dirigida ao Papa (1923), a nulidade da sua ordenação, que lhe é concedida, prossegue uma ativa oposição à ditadura militar, conspirando e participando em várias revoltas, o que lhe valerá a deportação para Ponta Delgada, nos Açores, e várias prisões pela polícia política. Casa com Elisa Nobre Baptista em 1934, dez anos depois de ter nascido o único filho em comum, Mário Soares, futuro Primeiro-ministro e Presidente da República. Dezoito anos antes, fruto de um outro relacionamento, nascera Tertuliano, o seu primeiro filho.
Na oposição ao Estado Novo, envolve-se na preparação de vários golpes contra o Regime, como o da chamada "Revolta da Mealhada", em 1946, ou o "10 de Abril de 1947", chefiado por Mendes Cabeçadas. Será novamente preso, encontrando-se na cadeia do Aljube com o seu filho, detido por também conspirar contra o governo de Salazar. Referindo-se ao pai, Mário Soares recordou sempre que fora a sua "grande referência moral", o "centro da família", "um factor insubstituível de estabilização".
Professor e pedagogo que foi até ao fim da vida, João Soares fundou, com João de Deus Ramos, o Bairro Escolar do Estoril, o Colégio Nun’Álvares e, em 1936, o Colégio Moderno (inicialmente Pensionato Moderno), na Estrada de Malpique, em Lisboa, hoje Rua Dr. João Soares. Enquanto diretor de todos estes estabelecimentos de ensino, e muito em particular do Colégio Moderno, que permanece como uma referência no ensino em Portugal, João Soares marcou gerações de estudantes, desenvolvendo métodos pedagógicos inovadores e modernos, que se refletem nas inúmeras obras escolares que escreveu, entre as quais se destacam Portugal Nossa Terra - Educação Cívica (com Elísio de Campos, 1917), A Idade Moderna e Contemporânea (1922), Novo Atlas Escolar Português (1925) e Quadros da História de Portugal (com Chagas Franco, 1932).
João Lopes Soares morre em Lisboa, a 31 de julho de 1970, aos 91 anos de idade. Vinte e seis anos depois, é fundada, pelo seu filho, a Casa-Museu. Centro Cultural João Soares, pólo da Fundação Mário Soares em Cortes, e onde, a par de uma intensa programação cultural e educativa, pode ser visitada uma exposição sobre a vida de João Soares e a História Contemporânea de Portugal.
O Arquivo da Fundação Mário Soares e Maria Barroso disponibiliza documentação e bibliografia sobre a vida e obra de João Lopes Soares:
Coleção relativa ao percurso pessoal e profissional de João Lopes Soares.
Livro de João Lopes Soares Fé e Civismo, alocução proferida no Quartel de Artilharia 2, 1904.
Livro de João Lopes Soares e Elísio de Campos, Portugal Nossa Terra - Educação Cívica, Livrarias Aillaud e Bertrand, 1917.
Livro de João Lopes Soares, Os Povos Orientais e a Grécia, Coimbra Editora, 1931.
Livro de João Lopes Soares, História de Roma e da Idade Média, Coimbra Editora, edições de 1929 e 1931.
Livro de João Lopes Soares, A Idade Moderna e Contemporânea, Coimbra Editora, edições de 1929 e 1932.
Livro de João Lopes Soares, Atlas Auxiliar de Iniciação Geográfica para as Escolas Primárias, Novara, Instituto Geográfico de Agostini, 1924.
Livro de João Lopes Soares, Novo Atlas Escolar Português, Livraria Sá da Costa - Editora, edições de 1929 e 1934.
Livro de João Lopes Soares e Chagas Franco, Quadros da História de Portugal, Ed. Paulo Guedes, 1932.
Livro de Aires B. Henriques, Leiria no "reviralho": João Lopes Soares às avessas... Villa Isaura: Ed. Museu da República e Maçonaria, 2020.