watch_later 16/4/2015 location_on Auditório da Fundação Mário Soares
Homens e Mulheres que pelos seus ideais, pela sua postura cívica e política, pelos seus combates, souberam dar sentido às suas vidas e, embora já falecidos, permanecem como exemplos. A Fundação Mário Soares dedica um ciclo de conferências e debates a essas figuras da nossa cidadania democrática, prestando-lhes homenagem. A trigésima quinta conferência do ciclo "Vidas com Sentido" é dedicada a Heliodoro Caldeira. Heliodoro Caldeira nasceu em Lisboa em 15 de Dezembro de 1909 e faleceu em Cascais a 17 de Novembro de 1966. Advogado e político.
Frequentou diversas escolas Comerciais e Industriais. Detido em Janeiro de 1929, acusado de visitar seu pai, preso no Forte de São Julião da Barra, para "estabelecer ligações revolucionárias". Em Abril e Setembro de 1929 e em Março e Julho de 1930 conhece novas prisões.
Dirigente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, distingue-se nas lutas estudantis contra a ditadura militar, sendo de novo preso pela Polícia de Informações em Dezembro de 1930.
Aí declara que "sob o ponto de vista político, está com todos aqueles que estiverem com a liberdade" e que "sobre os assuntos revolucionários, é adversário da Dictadura Militar". "E mais não disse." – sendo-lhe fixada administrativamente "residência fóra do Continente".
Enviado para os Açores, irá apoiar a "Revolta da Madeira" de 1931, sendo deportado seguidamente para Cabo Verde. Percorre vários campos de concentração e, em Agosto de 1932, evade-se clandestinamente num navio que o levará à Argentina.
Dedica-se ao jornalismo e a outras actividades, desenvolvendo intensa acção política junto da comunidade portuguesa e em contacto com sectores culturais e revolucionários latino-americanos.
Regressa a Portugal em Junho de 1935, ao abrigo de uma amnistia. Inscreve-se mais uma vez na Faculdade de Direito. Preso de novo em Fevereiro de 1938, desta feita acusado de "ofensas ao Presidente do Conselho" no jornal "Ecos de Portugal" e na rádio "Voz da Saudade", ambos de Buenos Aires. Condenado em Tribunal Militar Especial a 23 meses de prisão correccional, percorre as Cadeias do Aljube, Caxias e Peniche. Aqui recebe a notícia da morte no campo de concentração do Tarrafal de seu irmão, dirigente comunista.
Conclui o curso de Direito, enquanto trabalha numa companhia de seguros. Exerce a advocacia com entusiasmo.
Nunca abandona a intervenção cívica e política. Colabora em jornais como "O Sol", o "Diabo" e "República", sendo o primeiro divulgador da muralística revolucionária mexicana.
Participa activamente no MUD e nas campanhas eleitorais oposicionistas. É um dos organizadores do I Congresso Republicano em Aveiro, 1957.
Nos Tribunais Plenários da ditadura, defende empenhada e gratuitamente muitas dezenas de presos políticos.
Envolve-se também directamente em numerosas acções de solidariedade com militantes clandestinos.
Assume a defesa do escritor Aquilino Ribeiro, acusado da publicação do romance "Quando os lobos uivam", que dele dirá que "era o defensor estrénuo dos pobres, dos infelizes, dos contemptores dos deuses e seus princípios (...) quando, se tomasse o outro lado da alameda, poderia ser, graças à sua lúcida inteligência e poder dialéctico, o causídico respeitado dos possidentes e dominadores."
Sempre disponível para os seus amigos, mantém relações de grande proximidade com diversos companheiros de luta.
Tornando-se um advogado muito conhecido e respeitado, acolhe no seu escritório diversos jovens advogados, muitos deles saídos das crises académicas.
É eleito para o Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados.
O Presidente da República Mário Soares conferiu-lhe, a título póstumo, em 1993, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Intervenções de
Mário Soares
Jorge Santos
Fernando Rosas